O poder dos pequeninos
Nenhum psicólogo pode resolver problemas que apenas têm a ver com falta de regras e deficiente educação
Quem trabalha com crianças sabe imediatamente do que estou a falar porque diariamente assiste a situações destas. Em algumas famílias o poder está nas mãos das criancinhas e os pais parecem encolher os ombros numa atitude de completa impotência. Vemos que, desde tenra idade, os petizes põem e dispõem a seu belo prazer. Não é incomum ouvir-se que os pais de que não podem dar a medicação prescrita pelo médico porque a criança não quer, ou porque faz uma birra que o impede.
As queixas dos pais são do mais variado que há. Existem aqueles que não conseguem que os filhos durmam no seu próprio quarto, os outros que se vêem obrigados a comer constantemente fastfood, etc, etc. Em desespero de causa recorrem aos psicólogos.
Move-os a esperança de que o técnico lhe dê uma poção mágica que resolva de imediato a situação ou que, em alternativa, lhes diga que o filho sofre de uma maleita qualquer que justifique o seu comportamento.
Hiperativos … ou mal educados ? …
O que mais está na moda é acharem que as crianças são todas hiperativas! Ao colocar-se esse rótulo, desculpabilizam-se os pais que podem então encolher ainda mais os ombros, ao mesmo tempo que lamentam a má sorte que os levou a gerarem um filho com um problema deste tipo.
O azar (ou sorte) é que o Transtorno de Défice de Atenção e Hiperatividade não é tão comum como se pensa e o diagnóstico obedece a critérios muito precisos. Assim, o que acontece com frequência é que o comportamento das crianças não se deve a nenhuma patologia mental, mas sim à falta de regras que depois resvala em atitudes de má educação.
Obviamente que se comportam pior quando estão na presença dos pais, o que conduz a situações muito incómodas. Gritam, esperneiam, dizem palavrões, mexem em tudo, dão pontapés nas portas...Os pais tentam em vão travá-los por todos os meios mas, claro está que é tarde, já que a educação de base é dada em casa.
A educação tem de ser um processo contínuo
Os pequenos teimam em não obedecer (até porque não estão habituados a isso) e seguem-se as tradicionais palmadas e os habituais choros e gritos estridentes. Muitos pais, ao serem confrontados referem que as suas actividades profissionais os impedem de estar com os filhos e que, por isso mesmo, não querem manchar o convívio com repreensões e castigos.
Chegam a colocar a responsabilidade nos avós porque são eles que estão mais tempo com os netos e que, por isso mesmo, lhes deveriam ditar regras de conduta. É, de facto, uma nova maneira de viver a parentalidade, já que parece haver uma tendência para a desresponsabilização.
O tradicional papel de pai como figura de autoridade que as crianças se habituavam a respeitar, deu lugar ao pai-amigo que evita desempenhar o papel de “mau da fita” e, por isso mesmo, coloca a responsabilidade da educação dos filhos ou na escola, ou nos avós. Quando nem um nem outro funciona, assume-se que a criança tem um problema do foro mental e então há que procurar o psicólogo.
Detectado o foco da questão, quando confrontados, os pais adoptam um de dois tipos de atitude, ou se sentem altamente culpados e decidem esforçar-se por mudar, ou então negam a realidade, assumem que o psicólogo não está a ser eficiente e procuram outro técnico. Tudo isto é grave se pensarmos que são estas crianças que foram as novas gerações. Espera-nos então uma sociedade em que os adultos não têm regras e são incapazes de resistir a frustrações ?
Texto da autoria de Drª Teresa Paula Marques
Psicóloga Clínica, especialista em Psicologia Infantil e do Adolescente
A Escola Municipal René Chateaubriand Domingues tem como objetivo propiciar um ambiente harmonioso, organizado, compromissado com uma educação de qualidade para todos os estudantes. A escola está situada na cidade de Contagem/MG, Bairro Novo Riacho e atende uma grande demanda de alunos de 6 a 12 anos principalmente do bairro e redondezas. À noite a escola atende jovens e adultos no projeto EJA do ensino fundamental e Alfabetizaçao.
terça-feira, 17 de abril de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário